31 março 2007

Um mergulho a 29

Naquela não hora do final da manhã de domingo, enquanto pedalava junto ao mar, deixava-me confundir pelas sensações. O assado das castanhas nos fogareiros que as senhoras adiantavam para os passeantes que estariam prestes a chegar e o sabor salgado do ar húmido. Ia pedalando sobre a ideia de que há uma sedutora melancolia ligada àquela terra. Uma beleza no meio daquela falsa e parola aristocracia.
A dada altura desci a rampa e só parei no mar. Um mergulho a 29. Um mar só para mim. Uma exorcização. De novo sobre rodas, com a música no ouvido e a melancolia na razão. Há muito tempo, alguém disse que a cidade estava embrenhada numa aura particular, única, por ter sido construída sobre uma determinada rocha… .
A verdade é que me faz falta aquele ar, melancólico, aquele mar. Preciso, preciso muitas vezes. Sei que a única coisa que ali me prende são as recordações e que mais cedo ou mais tarde voltarão às raízes... aí ficarei só eu e o ar e o mar.
Com o cabelo a escorrer sal e o sol a bater na face que o Outono já levou, continuo caminho. Outros já se renderam ao mar e mergulham também.
Penso no mundo como uma roleta russa. Se por vezes somos nós a apontar a única bala à cabeça, em cada incontrolável acto inconsciente que cometemos, outras tantas é o próprio mundo que dispara contra nós. Sozinho. Sem razão. Sinto um desconfortável deja vu. Penso no Homem que já fui... revolto-me e acelero.
Acabo por perceber, enquanto sigo contra o vento, que “A” lógica é apenas essa: a destreza com que temos de nos desviar dos anos, sem nunca dispararmos ou sermos atingidos.

Longa se tornou a espera...

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